Martha Hübner, eu seu Facebook, deu a seguinte explicação do porquê apoia a criação da Associação Brasileira de Análise do Comportamento. Segue abaixo:
Considerações iniciais:
1) Fui presidente da ABPMC por quatro anos (de 2008 a 2011) e membro das diretorias dos presidentes Rachel Kerbauy e Hélio Guilhardi. Portanto, sou inteiramente comprometida com a ABPMC; não apenas grata e associada (quites, inclusive), mas comprometida e defensora de seus avanços. Sendo assim, qualquer proposta que eu apoie, no âmbito da Análise do Comportamento, não será contra a ABPMC. Enquanto presidente, sempre fui coerente com seus objetivos e todos os representantes dos diversos behaviorismos foram sempre muito bem acolhidos.
2) Fui presidente também da SBP, por quatro anos, e continuo apoiando seus congressos e eventos, levando a Análise do Comportamento aos seus programas científicos e publicando em suas revistas. Enquanto presidente, coerentemente com seus objetivos, todas as propostas em Psicologia científica de qualidade, independentemente das abordagens teóricas, foram sempre aprovadas em seus programas científicos.
3) Sou sócia da SBPC e via a SBP e ABPMC (associações científicas afiliadas) apresento trabalhos e conferências, quando convidada, no propósito de disseminar a ciência da Análise do Comportamento.
Sendo assim:
- Razão 1 para a ACBR existir: vejo a ACBr como um fórum mais específico, que se somará à ABPMC no avanço e disseminação da Análise do Comportamento . Para não dividir a área (em termos de esforços financeiros e físicos, porque divisões teóricas, epistemológicas e conceituais já existem) e evitando aumentar os custos de respostas, que poderiam inviabilizar a defesa da ciência da Análise do Comportamento, a ACBr se propõe a realizar seus encontros exatamente junto aos da ABPMC, com programação paralela , exclusiva de Análise do Comportamento, Isto só não ocorrerá se houver recusa da própria ABPMC (o que parece inviável, dado que seu atual presidente já saudou a iniciativa e já abriu espaço para a ACBr no próximo congresso da ABPMC; o atendimento a esse positivo convite se viabilizará assim que a ACBr for oficialmente registrada). Nesse ponto, só a prática e o tempo confirmarão esse compromisso. E nesse momento, o que a comunidade de analistas do comportamento pode fazer é confiar em seus idealizadores e na comissão provisória que constrói os estatutos da ACBr e ajudar a manejar as contingências sociais para que essa prática cultural se mantenha coadunada com seus planos originais.
Razão 2 para a ACBR existir : Tenho tido experiências internacionais intensas em relação à Análise do Comportamento, tendo ensinado Análise do Comportamento na Jordânia, Espanha, Argentina, Portugal e representado internacionalmente a comunidade de analistas do comportamento não americana junto ao Conselho Executivo da ABAI (Association for Behavior Analysis International – ABAI ). Tal experiência tem me colocado em contato com o desenvolvimento da área na Europa, Ásia, África, América Latina e América do Norte, conhecimento esse que me permite, juntamente com outros líderes da área, como João Claudio Todorov, Roosevelt , Marcelo Benvenuti, Marcio Borges Moreira, facilmente prever que o ambiente da Análise do Comportamento está em franca mudança, que a Análise do Comportamento, coerentemente com o movimento científico mundial, se desenvolve rapidamente SEM FRONTEIRAS e que em menos de 30 anos os analistas do comportamento não serão apenas psicólogos e médicos, e a ANÁLISE DO COMPORTAMENTO se configurará, a longo prazo, possivelmente como uma outra disciplina, uma outra profissão. Sendo assim, precisamos nos antecipar e a ACBr é idealizada com vistas a esse futuro que já bate fortemente à nossa porta. A ACBr vem para defender a ciência da Análise do Comportamento de vários movimentos, dentre eles: o da “ambição” descontrolada que uma possível ampliação de alcance profissional poderá trazer, defendendo o risco da extinção da ciência da Análise do Comportamento , dando lugar para um tecnicismo desatrelado da epistemologia e dos pilares da ciência básica e aplicada. E é preciso ter coragem para dar o primeiro passo na direção de uma mudança ( como a ACBr), porque, como diz Todorov, esperar que todo o grupo concorde, pode levar ao imobilismo e à extinção, diante de um ambiente em franca mudança. E quando acordarmos, o Análise do Comportamento poderá ter desaparecido, ficando em seu lugar equívocos como “método ABA”, “zen-budismo”, “dialética”, “terapia tranpessoal” e outros assemelhados.
Razão 3 para a ACBR existir : as representações de política científica , educacional, de saúde, etc, não têm sido o forte da ABPMC e a ACBr vem para cumprir 365 dias por ano esse papel de modo mais contundente e constante. Embora na minha gestão na ABPMC ( 2008 a 2011) eu tenha realizado ações nesse sentido (defendi, enquanto presidente da ABPMC, a Análise do Comportamento contra ataques dos psicanalistas; contra charlatanismos, contra equívocos no ENADE, na mídia, etc..), é raro ver a ABPMC se manifestar ao longo desses 22 anos. E é fácil entender porque: seus objetivos e práticas não estão nessa direção. E, além disso, é preciso estar alerta em 365 dias por ano e com um estatuto e com uma estrutura diretiva e consultiva que assim o permita. A ACBr se propõe a fazer este trabalho, 100% do tempo.
Razão 4 para a ACBR existir: as políticas governamentais de acompanhamento e avaliação da ensino superior de graduação na áreas que envolvem Psicologia, Administração, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, dentre outras em que a Análise do Comportamento possa ser ensinada via disciplinas como “Psicologia”ou “Aprendizagem”, por exemplo, está muito aquém do que foi na época em que a saudosa e estimada Carolina Bori liderava os sistemas de avaliação de ensino de graduação junto ao MEC e SESU. A avaliação do ensino de Análise do Comportamento na graduação está decadente, descuidada e os avaliadores sugeridos pelos órgãos avaliadores muitas vezes estão sem nenhum preparo para avaliar como a ciência da Análise do Comportamento vem sendo ensinada nos cursos de graduação. A ACBr vem para isso: para viabilizar ações políticas e técnicas que analisem e desenvolvam a melhoria da qualidade do ensino de Análise do Comportamento no Brasil na graduação, especialização e pós graduação.
Razão 5 para a ACBR existir: desfazendo um equívoco: muitos estão pensando erroneamente que os idealizadores da ACBr estão preocupado com certificação e que a ACBr vem para isso. ERRADO. A preocupação com a necessidade de certificação existe e desde 2010 criei espaço na ABPMC para essa discussão, trazendo experiências de outras áreas ( como a Medicina) e de outros países ( Glenn veio expor sua análise sobre o que ocorre nos EUA ) . Além disso, Roosevelt vem estudando o assunto desde o início desse século. Sendo assim, é natural pensar que queremos uma associação só para isso, já que temos liderado a discussão no país sobre o assunto. ENGANO. Queremos discutir a questão e realizar esforços junto com a comunidade. No início desse ano, convidamos um grupo informal de lideranças na área para discutir o assunto - 16 de março- ( em que estavam J.C. Todorov, Martha Hübner, Roosevelt Starling – os três que convidaram para a reunião - Verônica Bender, Vera Otero, Roberto Banaco, Regina Wilenska, Maly Delitti; Deisy das graças de Souza, Hélio Guilhardi, Sonia Meyer, Celso Goyos, dentre outros, foram convidados mas não puderam comparecer ). Naquela reunião concordamos que a ABPMC coordenaria esse movimento e que Todorov nomearia uma comissão para iniciar os trabalhos de discussão e viabilização do tema; em Campinas, no início de maio, no congresso do ITCR e IAAC, promovido por Helio Guilhardi e Patrícia Piazzon, Vera Otero e eu reapresentamos o tema e os resumos dessa nossa discussão e a reação da audiência foi muito negativa: discordaram que fosse o momento de pensarmos nisso e discordaram que a ABPMC coordenasse o movimento. A ACBr poderá contribuir para a elaboração de critérios de certificação. O processo de concretização da certificação de analistas do comportamento no Brasil só está começando e se uma associação coordenará ou não todo o processo é um assunto que só poderá ser concluído com o maior número possível de membros da comunidade de Analistas do Comportamento no Brasil. Isso ainda não aconteceu e a ACBr não vem para acelerar ou atropelar esse processo.
Hoje apresento cinco razões para a ACBr existir. Se precisar, amanhã apresento ainda mais.
Um abraço a todos.
Martha Hübner
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