domingo, 27 de janeiro de 2013

Comportamental e Cognitivo-Comportamental

Muitas pessoas acham que a abordagem cognitivo-comportamental seria uma vertente da abordagem comportamental. Essas pessoas estão enganadas, ao meu ver. Se ela for uma vertente, seria da própria abordagem cognitiva, que pegou "emprestado" nossas técnicas, digamos assim. No entanto, não creio que quando Watson publicou seu manifesto "A Psicologia como o Behaviorista a Vê", ele teria noção das proporções que essa nova escola de pensamento tomaria. Skinner estudou Watson, Pavlov, Thorndike e muitos outros até formar o que ele próprio chamou de Behaviorismo Radical. Por outro lado, Aaron Beck chegou à sua teoria cognitiva através do estudo de outros teóricos, obviamente, mas principalmente estudando pessoas depressivas.
Há também pessoas que dizem (inclusive profissionais da área) que a abordagem comportamental e a abordagem cognitivo-comportamental são a mesma coisa. Isso é simplesmente um absurdo para mim. Elas são filosofica e epistemologicamente diferentes. Enquanto nós behavioristas entendemos que a causa do comportamento humano são as variáveis ambientais das quais ele é função, os cognitivistas (que a partir de agora englobará, no texto, tanto os cognitivistas "puros" como os cognitivos-comportamentais) entendem que pensamentos e sentimentos o são. Por exemplo: "aquele cara bateu no irmão porque estava com raiva". Nós diríamos, talvez, que ele agrediu o outro em decorrência do próprio comportamento deste outro, que é aversivo pra ele; e a agressão seria uma forma de contracontrole, retirando do meio a estimulação aversiva que o está controlando. Já a raiva sentida vem justamente como efeito colateral deste controle aversivo sob o qual ele está.
Os cognitivistas assumem a existência de uma mente humana e atribuem comportamentos a ela, enquanto que nós entendemos mente como um termo que engloba uma série de comportamentos encobertos, como o pensar, o perceber, etc. (embora eu mesmo não admita a existência de uma mente e nem gosto de usar esse termo. Sim, sou chato!).
Na verdade, mais do que a mente, os cognitivistas "se escondem" atrás das chamadas "teorias do cérebro", atribuindo causas comportamentais aos funcionamentos neurofisiológicos do homem. Obviamente que eles estão envolvidos no comportamento humano, mas, por exemplo, a liberação de neurotransmissores (NTs) depende também de um evento no meio em que o sujeito está inserido.
Devemos entender o funcionamento respondente de um organismo como uma alteração decorrente de uma alteração no próprio meio, ou seja, até mesmo o biológico do homem responde em função das contingências que o controlam. Um exemplo: uma pessoa está andando tranquilamente pela rua e, de repente, aparece um cão bravo latindo e rosnando para ela. Há a liberação de NTs, como a adrenalina, e suas mãos ficam frias, o coração dispara, há sudorese fria, os pêlos eriçam, etc. Todas essas respostas estão em função da alteração no meio (que antes era tranquilo e, agora, tem um estímulo aversivo presente: o cão bravo.) em que a pessoa está inserida.
Através dessas últimas colocações também conseguimos dizer que, ao contrário do que os cognitivistas acreditam, as emoções também não são causas do comportamento, mas simplesmente, comportamentos que encontram-se em função das contingências, afinal, emoções também são respostas fisiológicas do sujeito, decorrentes de uma alteração no meio e também têm valor de sobrevivência. Embora emoções podem surgir através de lembranças, do ouvir uma música, etc., que, de certa maneira, são alterações no meio.
Com relação à psicoterapia, o trabalho dos cognitivistas é de, resumidamente, mudar o modo como o cliente vê o mundo através da mudança dos chamados processos cognitivos, isto é, através do modo como ele pensa e como ele percebe as coisas ao seu redor. Já a terapia comportamental muda a visão de mundo do cliente, através de mudanças comportamentais e contingenciais. É o movimento contrário. Cognitivistas tentam mudar de dentro pra fora e nós de fora pra dentro.

Diziam-me que a abordagem comportamental só está viva atualmente por causa dos cognitivos-comportamentais. Eu digo exatamente o contrário: a abordagem cognitiva só está viva hoje porque sem as nossas técnicas, ela não se estabeleceria nem se manteria.

O texto de hoje foi feito sem referências formais. Só com o que eu aprendi com meus estudos, porém, tive a ajuda do nosso querido Alessandro Vieira dos Reis, com este texto, onde ele aponta 7 diferenças entre o cognitivismo e o comportamentalismo (o blog dele é ótimo, sigam!).

Dica de leitura: Capítulo 6 do livro Questões Recentes na Análise Comportamental do Skinner.




sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Quero saber mais. Por onde começar?

As pessoas querem começar a ter um contato maior com a Análise do Comportamento e a própria teoria do Behaviorismo Radical e muitas vezes não sabem por onde começar. Pois bem, eu fiz uma seleção de livros que talvez seja útil. 


O primeiro livro que eu indicaria seria o Princípios Básicos de Análise do Comportamento do Márcio Borges Moreira e do Carlos Augusto de Medeiros, que é da editora Artmed. É um livro extremamente gostoso de ler, de linguagem muito fácil. É um dos livros que a professora de Psicologia Experimental da minha faculdade usa como base para a matéria, justamente pela simplicidade com que os autores explanam conceitos básicos da Análise do Comportamento, desde os primórdios do Behaviorismo até os procedimentos laboratoriais que devem ser realizados com alunos.


O segundo livro que eu indicaria para se ler é o Compreender o Behaviorismo: comportamento, cultura e evolução do biólogo americano William M. Baum. Este livro também é da editora Artmed. Com a capa preta, como o da foto, é a 2ª edição do livro. Ele possui uma linguagem um pouco mais difícil do que o livro anterior do Moreira e Medeiros, no entanto, não há sofrimento para compreensão do assunto. Esse livro é extremamente abrangente, fala desde as origens filosóficas do Behaviorismo até de temas mais "polêmicos" da teoria, como pensamento, liberdade e cultura.






Creio que depois que uma pessoa tenha lido os dois livros anteriores, ela já tenha maturidade suficiente para ler Skinner no Skinner. E o primeiro livro que eu indico dele é o Sobre o Behaviorismo, da editora Cultrix. O Skinner começa esse livro apontando as críticas recorrentes que são feitas à sua teoria pelos teóricos de outras abordagens da psicologia e de outras áreas da ciência. Durante o livro ele vai respondendo todas essas críticas em capítulos que falam desde o condicionamento operante até o pensamento e o "mundo dentro da pele". Esse livro, por se tratar de ser um original do criador da teoria, digamos assim, torna-se um pouco mais difícil de se ler. Requer um pouco mais de atenção, entretanto, é um livro muito pequeno, que eu brinco: "é o livro de bolso que o Skinner escreveu".








Este livro, o Ciência e Comportamento Humano, do Skinner, é ideal para quem conhecer mais profundamente o Behaviorismo Radical e o poder que ele tem, em minha opinião. Ele é bem mais longo que os anteriores, de quase 500 páginas, pela editora Martins Fontes. A capa da foto é da 11ª edição. Este é um dos livros nos quais o Skinner fala de sua teoria pelo mais científico possível, porém de maneira "dinâmica", digamos assim; apontando vários experimentos e dando vários exemplos para explicar conceitos mais complexos. É um livro de difícil linguagem que requer dedicação de quem o lê e não estiver acostumado com a linguagem de "originais". Mas vale muito a pena ler esse livro. Muito mesmo. Falando de um modo mais informal e pessoal, é um livro que eu terminei de ler e falei: "que livro brilhante!", porém, este foi um pensamento que me ocorreu durante toda a leitura. 




Este último livro que eu indico nessa postagem, o Questões Recentes na Análise Comportamental, também do Skinner, pela Papirus Editora, é extremamente gostoso de ler. É de leitura muito rápida. Li em 6 dias. No entanto, é um livro que já se encontra esgotado. Para ter acesso a ele é necessário virar rato de sebos (mesmo que sejam os onlines como a Estante Virtual). É um livro onde o Skinner fala de como a teoria dele se encontra na contemporaneidade. Ele abrange temas desde psicoterapia até cultura. Como disse uma professora minha, de Teorias e Técnicas Psicoterapêuticas Comportamentais: "O Skinner teve sorte de viver até tão tarde e ter podido escrever sobre a teoria dele nos tempos atuais". Este livro é de 1989 (lançado no Brasil em 1990).

Eu creio que esses livros sejam os ideiais para quem quer começar a conhecer um pouco mais a fundo a teoria skinneriana e a Análise do Comportamento. Em breve, numa outra postagem, farei outras indicações de livros só do Skinner, pela ordem que eu li, que achei satisfatória. 
Todavia, antes de terminar essa postagem, gostaria de indicar um livro para quem está mais interessado pela Psicologia Experimental. É o livro A Análise do Comportamento no Laboratório Didático, da Maria Amélia Matos e Gerson Yukio Tomanari, de linguagem muito fácil e dinâmica. É pela editora Manole. Ele fala passo a passo cada procedimento laboratorial, abrangendo também como se cuida de um biotério, como se segura um sujeito experimental e até mesmo os motivos pelos quais o rato albino é considerado o sujeito experimental ideal. 


Bom, termino essa postagem por aqui. Como disse, em breve farei outras indicações, somente com a obra do Skinner. Eu realmente espero que tenha sido útil de alguma maneira, embora ache que tenha deixado muitos livros para trás.


Conferência de B. F. Skinner para Psiquiatras e Psicólogos

Há algumas semanas, disponibilizaram no YouTube uma conferência que o Skinner fez para psiquiatras e psicólogos nos Estados Unidos legendando em português. No entanto, eu não consegui descobrir nada sobre o local ou a data onde essa conferência ocorreu (inclusive, se alguém souber essas informações eu agradeceria muito se pudesse me passar).

Abaixo estão os vídeos da conferência (que está dividida em seis partes), contudo, a legenda não é embutida. Você precisará ativá-la. É muito fácil: no canto inferior direito do vídeo estarão alguns símbolos, você precisará clicar no segundo da esquerda para a direita e pronto! Legenda ativada! Divirtam-se:









quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Comportamento Verbal

Muitos estudantes de Psicologia, sobretudo aqueles que se interessam pela Análise do Comportamento, podem se deparar com uma das áreas que eu acho mais fascinantes e também mais complexas do Behaviorismo Radical: o comportamento verbal.
Justamente por ser uma área que eu considero complexa e que muitos acadêmicos não têm acesso tão fácil, até mesmo nas aulas de teorias comportamentais durante a graduação, resolvi escrever um artigo científico (que já está em fase de revisão e correção) que tem como objetivo introduzir o assunto aos estudantes de Psicologia e behavioristas iniciantes de uma maneira mais simples ou, no mínimo, menos complexa. E a presente postagem trata-se justamente disso: assim como o artigo, falar sobre o comportamento verbal de uma maneira "fácil".

A primeira coisa que devemos saber sobre o comportamento verbal é que ele é um comportamento como qualquer outro comportamento operante, isto é, modifica o meio e é modificado por ele, no entanto, existe uma singularidade: ele é mediado socialmente. E isso quer dizer que é necessário um ouvinte para que o comportamento verbal seja produzido. Mesmo que o ouvinte seja o próprio falante.
Sendo assim, Ernst Vargas, psicólogo americano da B. F. Skinner Foundation , num artigo de 2007, propõe não uma contingência de três termos, mas uma contingência de quatro termos para entendermos melhor o comportamento verbal. Segundo ele, seria assim:

Estímulos Antecedentes (Sd) > Ações Verbais > Ações Mediadoras > Estímulos Consequência (Sc)

Onde Sds seriam os estímulos específicos que servem de ocasião para a emissão de uma resposta, as Ações Verbais equivaleriam-se à Resposta (comportamento) na contingência de três termos, por especificarem a emissão do comportamento verbal propriamente dito. Já as Ações Mediadoras indicariam a mediação social do comportamento verbal, ou seja, as ações que o ouvinte tem para a emissão do comportamento verbal do falante e, finalmente, os Scs seriam as consequências que o comportamento verbal produz no meio, assim como na usual contingência de três termos.
Dessa maneira, conseguimos perceber a importância do ouvinte na emissão do comportamento verbal por parte de um falante. E essa importância é tão grande que Skinner (1989) define vários papéis que o ouvinte pode ter, sendo no mínimo seis: 1) o ouvinte é informado; 2) o ouvinte é ensinado; 3) o ouvinte é aconselhado; 4) o ouvinte é orientado por regras e governado por leis (também pelas leis da ciência); 5) o ouvinte também é um leitor; e 6) o ouvinte também tem a capacidade de concordar. A explicação pormenorizada de cada um desses papéis não será feita aqui, uma vez que é somente uma postagem. Todavia, o ouvinte tem outro papel crucial: ele mesmo serve de estimulação discriminativa para a ocasião do comportamento verbal, uma vez que é a comunidade verbal que instala, reforça e mantém esse comportamento no repertório de um indivíduo.

Já que entendemos que o próprio ouvinte serve como estimulação discriminativa para a emissão do comportamento verbal, podemos falar do que Skinner (1978) define como operantes verbais e unidades de análise do comportamento verbal, que seriam: auditório, mando, comportamento ecoico, comportamento textual, comportamento intraverbal e tato; e também de um outro comportamento muito importante na análise do comportamento verbal: o comportamento autoclítico.

AUDITÓRIO

O auditório é um estímulo discriminativo na qual o comportamento verbal emitido em sua presença é caracteristicamente reforçado e caracteristicamente forte. Além disso, é o auditório que estabelece as contingências nas quais línguas, como inglês, português, japonês, etc. são reforçadas. Em uma comunidade verbal, com uma só língua, muitos jargões, gírias e linguagens específicas, como as linguagens técnica e científica, são reforçadas por auditórios específicos. Em nossa comunidade verbal, gírias como "mano" e "treta" são reforçadas por um grupo específico. Assim como as palavras "reforçamento operante" e "operantes verbais" são reforçadas por outro grupo específico.
Outra característica do auditório é que ele tem a dimensão de ser negativo, ou seja, de reforçar negativamente e até mesmo punir e extinguir o comportamento verbal ou parte do comportamento verbal de um falante. Por exemplo, um aluno que vai apresentar um seminário na faculdade e usa uma linguagem muito coloquial pode ser reforçado negativamente pelo auditório (os membros de sua sala e o professor) e quando esse aluno fala de modo mais científico, é reforçado positivamente pelo mesmo auditório. Também existe o que se chama de auto-auditório, que é quando o falante e o ouvinte são a mesma pessoa. No auto-auditório, o falante é afetado pelas consequências do seu próprio comportamento verbal, em palavras mais simples, ele se autorreforça, digamos assim.

MANDO
 
O mando é um operante verbal que tem como característica principal especificar a consequência que quer se obter, digamos assim. Ele deriva de comando, é mais facilmente identificável quando ocorre no tempo verbal imperativo e geralmente depende do estado de privação que o falante se encontra. Um exemplo de mando é quando dizemos "me ligue?", "saia daí!", "licença, por favor?", etc. No entanto, não existe somente um tipo de mando. Existem também o mando prolongado, o mando supersticioso e o mando mágico.
O primeiro, o mando prolongado é exemplificado quando mandamos consequências numa comunidade que não pode reforçar-nos caracteristicamente. Quando mandamos em crianças muito pequenas, animais não-treinados ou quando as próprias crianças mandam no comportamento de brinquedos, são exemplos de mandos prolongados.
Já o mando supersticioso se caracterizaria por um reforço acidental da resposta, assim como um comportamento não-verbal é reforçado acidentalmente quando um índio está rodando em volta de uma fogueira e de repente começa a chover numa época de seca, mesmo que este comportamento não tenha sido reforçado anteriormente. Um exemplo é quando alguém, num jogo de baralho, manda "venha ás de espadas, venha ás de espadas" e o faz mesmo que a carta nunca tenha sido apresentada em ocasião semelhante posterior.
O mando mágico, quando lemos o nome, podemos até achar que tem a mesma definição que o mando supersticioso, no entanto, existe a diferença de ele ter uma baixíssima probabilidade de ser reforçado em quaqluer circunstância.

COMPORTAMENTO ECOICO

O comportamento verbal ecoico (ou de repetição) tem a característica de estar totalmente sob controle de um estímulo verbal audível anterior e a resposta ecoica tem correspondência ponto a ponto com esse estímulo. Um exemplo muito claro que se tem é quando uma professora que está ensinando inglês manda aos alunos: "repitam depois de mim: YELLOW." e os alunos, sob controle total do estímulo vocal da professora, ecoam: YELLOW. Apesar de a definição de comportamento ecoico parecer extremamente simples, deve-se tomar cuidado porque quando um aluno, fazendo uma lição, ecoa o "certo" uma vez verbalizado pela professora, este pode ser simplesmente um reforçador condicionado e não um comportamento ecoico puro. Além disso, existe o que se chama de comportamento auto-ecoico, que é basicamente quando o falante ecoa o próprio comportamento, ponto a ponto. 

COMPORTAMENTO TEXTUAL

 O comportamento verbal textual, assim como o operante verbal ecoico, está inteiramente sob controle de um estímulo verbal anterior, só que neste caso, ao invés de ser um estímulo audível, é um estímulo visual (ou no caso do Braille, tátil). Um texto é comportamento verbal congelado, os estímulos podem ser letras, hieróglifos, símbolos, figuras, etc. Um exemplo é o seu comportamento agora, leitor. Você está sob controle dessas variáveis mínimas que chamamos de letras, ponto a ponto. Se escrevemos "ÁGUA" sua resposta, muito provavelmente, como no caso dos operantes ecoicos, será "ÁGUA", mesmo que subvocalmente. Também há o que se chama de auto-comportamento textual, que é quando um sujeito está sob controle do que ele mesmo escreveu, como quando escrevemos lembretes nas costas da mão ou quando um político escreve um discurso e o lê na cerimônia em que vai tomar posse.

COMPORTAMENTO INTRAVERBAL

O comportamento intraverbal, assim como o comportamento ecoico e textual, também está sob controle total de um estímulo verbal anterior, seja ele audível ou visual, mas a diferença está na resposta. Esta não será correspondente ponto a ponto com o estímulo anterior. Um exemplo de intraverbalização é quando resolvemos uma conta matemática. Estamos sob controle do estímulo verbal antecedente "3 + 5", só que, diferentemente dos comportamentos ecoico e textual onde responderíamos exatamente "3 + 5", no comportamento intraverbal, responderemos "8". Outro exemplo é quando traduzimos uma palavra, frase ou texto de uma língua diferente para nossa língua natal. Estamos sob controle do estímulo "THE GIRL IS BLONDE". No caso do comportamento ecoico e/ou textual responderíamos estando correspondentes ponto a ponto com esse estímulo: "THE GIRL IS BLONDE" e no comportamento intraverbal respondemos "A GAROTA É LOIRA". Nesses dois exemplos percebemos claramente que estamos sob controle de um estímulo verbal anterior, mas que não respondemos correspondendo variável por variável ou ponto por ponto. O comportamento intraverbal também está relacionado com comportamentos de lembrar e memória. Quando tentamos lembrar de algo geralmente estamos sob controle de um estímulo verbal anterior, por exemplo, uma pergunta: "ONDE VOCÊ DEIXOU AS CHAVES DO CARRO?" e respondemos com uma verbalização diferente do estímulo anterior: "AH! DEIXEI SOBRE O CRIADO-MUDO, NO QUARTO".

TATO

O tato é um comportamento verbal que também está sob controle de um estímulo anterior, como todos os outros, no entanto, esse estímulo é não-verbal. Ardila (2007) afirma que o tato é o operante verbal que basicamente serve para dar nome a estímulos discriminativos. Skinner (1978) nos diz que o tato é o comportamento verbal mais importante que existe, justamente pela conspicuidade do controle exercido pelo estímulo antecedente e pela clareza com que vemos como a comunidade verbal reforça o comportamento de um falante. O exemplo de um tato é a criança dizer "PANELA" na presença de uma panela e ser reforçada contingentemente pela comunidade verbal que a cerca.
Ainda há o que chamamos de tato ampliado. Esse operante surge quando estímulos novos que se assemelham a estímulos anteriores previamente presentes e ainda assim servem de ocasião para que o falante emita o tato. Por exemplo, um mesmo falante emite o tato "CADEIRA" na presença da cadeira de madeira de sua casa e pode emitir o mesmo tato na presença da cadeira estofada de tecido do professor, na escola. Esse tipo de tato tem várias extensões: metafórica, metonímica, de solecismo, entre outros.
Também há a definição do que chamamos de tato abstrato. Ele ocorre quando qualquer propriedade do estímulo antecedente, em que uma resposta foi contingencialmente reforçada, exerce um grau de controle sobre o falante mesmo que em outras combinações. Um exemplo é quando uma criança emite o verbal "MAÇÃ" na presença da característica fruta vermelha e emite o mesmo verbal na presença de uma maçã verde. Aqui damos a importância à propriedade do estímulo maçã que adquiriu controle sobre a criança, talvez o tamanho ou o formato.
O tato até certo ponto se assemelha ao comportamento intraverbal, pela falta de correspondência ponto por ponto com o estímulo antecedente. No entanto, as contingências de reforçamento no tato são mais consistentes que no comportamneto intraverbal, uma vez que é a comunidade verbal que reforça o tato do falante, por interesse próprio.

 AUTOCLÍTICO

O comportamento autoclítico é caracterizado por ser um comportamento verbal que depende de ou se fundamenta em outro comportamento verbal e se baseia no papel do ouvinte, pois, o autoclítico serve para preparar o ouvinte para o comportamento verbal que o acompanha. Ele também tem a capacidade de especificar a probabilidade de ocorrência de uma resposta e de identificar o efeito que determinada resposta teve sobre o falante em determinadas contingências. São exemplos de autoclíticos: "não acredito que...", "preciso dizer que...", "gostei de saber que...". No entanto, não existem só um tipo de autoclítico. Existem autoclíticos descritivos, que servem para o falante descrever o próprio comportamento, existem os autoclíticos negativos que negam ou cancelam o comportamento verbal seguido deles e também há os autoclíticos qualificados que são exemplificados pelos autoclíticos de negação ("não...") e de asserção ("sim..") e os autoclíticos quantificadores que podem ser exemplificados por verbalizações como "todos..." e "nenhum...".


Esses operantes verbais servem como classificação para o comportamento verbal. E este é formado como qualquer outro comportamento operante, mas como foi dito, com a mediação especial do ouvinte. Acho que é plausível dizer que o primeiro comportamento verbal a "nascer" no repertório do sujeito é o ecoico, com os próprios pais mandando "diga PAPAI" e a criança aprendendo a dizer devagar e sendo reforçada conforme vai chegando mais próximo de responder ponto a ponto o verbal "PAPAI". Primeiro ela pode dizer "PÁ" e ser reforçada com um reforçador condicionado como o "PARABÉNS!" pela comunidade verbal. Posteriormente, a comunidade diminui a intensidade do reforço ou então não reforça mais essa verbalização da criança e espera que ela emita "PAPÁ" e a reforça de acordo. Em momentos futuros, o mesmo se repete: a comunidade para de reforçar essa verbalização e espera que ela emita o "PAPAI" propriamente dito. O mesmo acontece com o comportamento textual, quando a criança aprende a ler e a escrever. Qualquer comportamento verbal que se aproxime da resposta ideal é reforçado diferencialmente até que o sujeito emita o comportamento textual desejado pela comunidade. Vê-se que o reforço nesses dois tipos de comportamento são reforços educacionais, digamos assim, providos, obviamente, pela comunidade verbal.
O mando, parece ser o mais fácil de entender como é instalado. Ele começa como um ecoico e depois que o sujeito recebe o reforçador natural do mando, ele se mantém, afinal, o mando especifica o reforço e uma vez que este é conseguido, o mando se mantém forte no repertório comportamental de quem o emite. Os comportamentos intraverbal, o tato e o autoclítico já nos fornece uma evidência maior do papel que a comunidade verbal exerce sobre o falante, afinal de contas, ela é quem vai reforçar esses comportamentos no sujeito. O tato é reforçado conforme os interesses da sociedade. O comportamento intraverbal também depende da aprovação, por parte da comunidade verbal, da resposta verbal assertiva em relação ao estímulo anterior da qual a intraverbalização é função. O autoclítico, por se basear no próprio ouvinte, é naturalmente reforçado por ele.

Creio que essa postagem possa servir para que se tenha uma noção maior de como é classificado o comportamento verbal e suas características principais. É óbvio que foi dito tudo muito superficialmente, afinal, como eu disse no começo do texto, essa área é uma das mais complexas de se estudar na minha opinião. Porém, é uma área fascinante e, por isso, apaixonante. O próprio Skinner considera seu livro, o Verbal Behavior (O Comportamento Verbal), o mais importante de sua carreira. E não é para menos. Acho que todos que se interessem por essa área de estudo deveriam ler esse livro como o "pontapé" inicial. Obviamente, que depois de ter lido o Ciência e Comportamento Humano, também do Skinner, como ele mesmo indica.


Referências


ARDILA, R. – Verbal Behavior de B. F. Skinner: sua importância no estudo do comportamento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, Belo Horizonte, v. IX, n. 2, p. 195-197, 2007.

SKINNER, B. F. O Comportamento Verbal. São Paulo: Cultrix, 1978.

SKINNER, B. F. Questões Recentes na Análise Comportamental. 5 ed. Campinas: Papirus Editora, 1989.
VARGAS, E. A. – O Comportamento Verbal de B. F. Skinner: uma introdução. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, Belo Horizonte, v. IX, n. 2, p. 153 – 174.