sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A construção do corpo perfeito compensa a destruição do psicológico?


Parece que alguns professores de Educação Física têm optado por abordar seus alunos usando aquilo que chamamos de controle aversivo do comportamento (Skinner, 1953; 1957; 1971; 1974; Catania, 1999; Baum, 2006; Moreira & Medeiros, 2007; etc), aconselhando que não se motive alunos com frases de impacto que realmente o motivem, como no cerne do conceito de motivação. Ao contrário, propõem: “Você é fraco!”, “você está gordo” e “sua genética é um lixo” são algumas das verbalizações que seriam emitidas para um desempenho melhor e um “bom treino” realizado.
Agora vamos lá: O que Skinner diria sobre isso? “Eu não sei, mas ele não era um bodybuilder.” É claro que não, Skinner era um BRAINbuilder, se ele era alguma coisa além do que o melhor Analista do Comportamento que já existiu. Vou tentar apontar algumas razões pelas quais esse tipo de abordagem NÃO DARIA CERTO com alguns tipos de pessoas.
1)    Como dito: é controle aversivo. Além do nome dispensar explicações, ele tem alguns efeitos colaterais. Entre eles o de gerar respostas emocionais muito pouco agradáveis para quem vive sob contingências aversivas.
2)    Segundo, sendo controle aversivo, o indivíduo que está sob essas contingências vive à mercê das consequências de seu comportamento. Essas consequências podem instalar e manter determinados tipos de comportamento que podem ser o contrário do esperado. Um exemplo? Em vez de esse aluno tentar provar ao seu “personal trainer” que ele é diferente do que essas verbalizações exprimem, pode simplesmente parar de treinar, na melhor das hipóteses. Numa das piores (são tantas! Acreditem!), o treinador instalaria, no aluno, regras como “eu sou um bosta, jamais vou conseguir qualquer tipo de realização que almejo” (torcemos para que isso não se generalize para outros aspectos da vida e fique só no ambiente da academia!), “eu sou fraco”, “eu sou gordo e jamais deixarei de ser”, “do que adianta tentar se nem meu treinador acredita no meu potencial?”, etc. Vamos torcer também para que aluno não entre no que chamamos de desamparo aprendido (Skinner, 1990; Catania, 1999).
3)    Abordando agora uma hipótese não tão agradável para o próprio treinador: o aluno pode ser bem diferente do que ele imagina, se sentir ofendido e, ao invés de recuar e se fechar no seu “mundinho” ou treinar mais pesado para provar ao treinador que ele é “diferente”, pode dar uma investida e tomar medidas legais contra o profissional que o abordou desse modo (não conheço o suficiente, mas poderia ter denúncia no Conselho Regional?)

Enfim, como eu disse: esse tipo de abordagem pode dar certo para ALGUNS alunos, lembremos sempre: cada ser humano é um e único. Defender uma abordagem aversiva dessas para TODOS é simplesmente contraproducente. Eu mesmo, enquanto um aluno que frequenta academia e que é obeso e que sim, acredita que pode emagrecer e atingir objetivos, me sentiria extremamente coagido e “motivado” ao extremo, mas para PARAR de treinar.
Levando em consideração essa unicidade inerente a cada ser humano: será que não seria melhor entender qual a demanda e necessidade do aluno para que, com ele, a melhor forma de treino fosse optada? É claro que não estou querendo me meter numa área que não é a minha, mas deixo a pergunta: será que vale a pena construir um corpo perfeito e destruir um psicológico de modo que possa chegar ao irreversível? É para se refletir, no mínimo.

REFERÊNCIAS

Baum, W. M. (2006) Compreender o Behaviorismo. 2 ed. Porto Alegre: Artmed.
Catania, A. C. (1999) Aprendizagem: Comportamento, Linguagem e Cognição. 4 ed. Porto Alegre: Artmed.
Moreira, M. B.; Medeiros, C. A. (2007) Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed.
Skinner, B. F. (1953) Science and Human Behavior. New York: Free Press.
Skinner, B. F. (1957) Verbal Behavior. Cambridge: Copley Publishing Group.
Skinner, B. F. (1971) Beyond Freedom and Dignity. New York: Hackett Publishing Company.
Skinner, B. F. (1974) About Behaviorism. New York: Vintage Books.
Skinner, B. F. (1990) Questões Recentes na Análise Comportamental. São Paulo: Papirus Editora.