domingo, 28 de julho de 2013

Rumor e fofoca: uma breve compreensão sob olhar skinneriano

O rumor é algo que é recorrente em nossa cultura. Vizinhos falando sobre sua vida, você falando sobre a vida dos seus vizinhos. Seus vizinhos e você comentando a vida de alguém que nem conhecem, seja sob controle de encobertos, seja sob controle textual de uma revista como as "Tititis" da vida, como acontece com as ditas celebridades das tão bem chamadas "revistas de fofoca". 
Programas de TV como da apresentadora Sônia Abrão, onde a vida de pessoas públicas são escancaradas e, também, programas específicos como o do apresentador João Klebber onde pessoas anônimas são convidadas a revelarem segredos mais íntimos para pessoas que lhe são importantes em rede nacional, de modo que não só a plateia participa, mas todos aqueles que ligarem a TV no horário que o programa está sendo exibido. O mesmo acontece com o programa "Casos de Família". Todos os brasileiros que estiverem sintonizados naquele canal estarão comentando a vida de pessoas anônimas, que nunca tinham visto antes e não têm nem ideia de como foi a vida de quem se presta a tal exibição (ora bolas, os próprios apresentadores que são pessoas -ditas- TÃO importantes se dão a esse luxo! Se eles podem, por que não nós, "meros mortais"?!).


A questão é: por que falamos de terceiros e, por que é tão reforçador tanto para falante como para ouvinte falar de terceiros?

 Para entendermos esse princípio, creio que temos que recorrer ao que Skinner explana sobre comportamento ecoico. Esse é um dos operantes verbais apontados pelo autor no Verbal Behavior (1957), que está entre o mando, o tato, o comportamento textual e o comportamento intraverbal. Estes dois últimos e o comportamento em questão (ecoico) têm uma característica peculiar que os difere dos demais: eles estão sob controle de uma variável também verbal. 
O comportamento ecoico pode ser exemplificado claramente quando vemos um professor, numa escola qualquer, pedindo para que os alunos repitam uma palavra, por exemplo, CASA, e os alunos ecoam: casa.
Através desse exemplo, vemos a principal propriedade do comportamento ecoico: ele um operante que apresenta correspondência ponto-a-ponto entre um estímulo verbal vocal e uma resposta verbal vocal. (Também existe um tipo especial de comportamento ecoico, chamado comportamento auto-ecoico, onde o falante repete o que ele mesmo diz, mas não se faz pertinente nesse texto aprofundarmos nesse subtipo específico).
Geralmente, o comportamento ecoico é instalado e mantido no repertório de alguém por meio daquilo que Skinner (1957) chama de reforçamento educacional. Entretanto, o comportamento ecoico pode ser reforçado mesmo quando o falante não está sendo explicitamente educado. Por exemplo, uma pessoa pode ser reforçada quando repete alguma coisa para uma terceira pessoa (ou seja, ela faz parte de uma audiência que possivelmente tem interesse naquilo que está sendo verbalizado, além de estar sob controle de um estímulo verbal vocal anterior e, nesse caso, ecoando a resposta vocal para outrem). E, uma vez que essa terceira pessoa é um ouvinte, ela tem o poder de reforçar o comportamento do falante (Skinner, 1957/1990).
Skinner (1957) também aponta que há várias fontes indiretas de reforçamento para o comportamento ecoico. Por exemplo, um sujeito é reforçado por ecoar verbalizações emitidas por outros numa conversa porque essas verbalizações são mais prováveis de serem partes efetivas do repertório verbal de quem está ouvindo.
E isso é claramente visto em nosso cotidiano: no colégio, ecoamos respostas verbais que são ofensivas a um determinado sujeito para ouvintes cujos quais também têm tal sujeito como aversivo em seu ambiente. Por outro lado, ecoamos elogios àqueles que também sintam empatia ou se interessam pelo sujeito em questão. Também podemos simplesmente ecoar notícias que irão "chocar" a audiência, apenas porquê têm essa função.
O rumor, introdutoriamente, pode ser explicado pelos princípios do comportamento verbal ecoico. Já a fofoca propriamente dita, envolve o comportamento intraverbal, pois emitimos respostas que não são correspondentes ponto-a-ponto com estímulos verbais antecedentes. "Fulana está grávida e fará exame de DNA para comprovar a paternidade da criança" pode ser repetida* como "Fulana está grávida, você acredita?! E ela é tão 'danadinha' que nem sabe quem é o pai!". 
Entretanto, ainda assim, fofocar em nossa cultura é valorizado porque é possivelmente é reforçada com o choque das pessoas e, com isso, sua função é mantida com dada força no repertório do indivíduo. Como Skinner (1953) aponta, uma pessoa é generalizadamente reforçada quando a outra se submete a seu poder. 



*o termo não é utilizado como sinônimo de "pode ser ECOADA", pois NÃO HÁ correspondência ponto-a-ponto entre estímulo antecedente e resposta, como foi explanado.

Referências

Skinner, B. F. (1953) Science and Human Behavior. New York: The Free Press.
Skinner, B. F. (1957) Verbal Behavior. Cambridge: Copley Publishing Group (B. F. Skinner Foundation)
Skinner, B. F. (1990) Questões Recentes na Análise Comportamental. 5 ed. Campinas: Papirus Editora.


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