segunda-feira, 29 de julho de 2013

Alguns Mecanismos de Defesa freudianos sob olhar do Behaviorismo Radical de Skinner: Resumo Expandido

Algumas pessoas se mostraram interessadas no trabalho que apresentei no Encontro Sul-Brasileiro de Análise do Comportamento. Como não posso postar o artigo na íntegra antes de ser publicado, lhes darei o resumo expandido nesse post. Espero que gostem. Quaisquer perguntas, sintam-se livres para fazer. Segue abaixo:

Resumo
Introdução: Os mecanismos de defesa foram elaborados na teoria psicanalítica de S. Freud e designam diferentes operações mentais que têm como principal função proteger o indivíduo daquilo que lhe possa causar algum sofrimento psíquico. Segundo teóricos psicanalíticos, todos esses mecanismos se processam pelo ego, sendo, em sua maioria, inconscientes. Já o ego é considerado parte de uma estrutura mental, na qual ainda existem outras duas estruturas chamadas id e superego, que compõem a tríade mental que determina como se dá a personalidade do indivíduo. Essa tríade surge da necessidade do organismo de fazer transações entre o mundo interno e o mundo objetivo externo. Entretanto, todos esses conceitos partem (e fazem parte) de explicações mentalistas para o comportamento. Explicações essas que, para os behavioristas radicais, são no mínimo insuficientes e insatisfatórias, uma vez que o comportamentalismo entende que a maneira pela qual um organismo se comporta depende muito mais de variáveis ambientais das quais o comportamento é função do que de uma possível mente de natureza imaterial. Visto isto, esta pesquisa teve como objetivo principal entender como o Behaviorismo Radical poderia contemplar alguns mecanismos de defesa freudianos pautando-se não em uma estrutura mental para explicar estes fenômenos, mas na sua relação com o controle aversivo, com princípios do reforçamento negativo, dos comportamentos de fuga e esquiva e também da punição.
Método: Este projeto foi realizado com base em livros e artigos científicos nacionais e internacionais, em textos do próprio Skinner e do Freud, bem como seus comentadores contemporâneos que expõem conceitos de mecanismos de defesa, na visão de ambos os autores; de controle aversivo, fuga e esquiva e outros conceitos que possam explicar alguns mecanismos de defesa. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, a fim de contemplar a relação entre estes conceitos e entender qual é a visão do Behaviorismo Radical sobre os mecanismos de defesa ditos inconscientes pela teoria psicanalítica de Freud.
Resultados: Os mecanismos de defesa, para psicanálise, servem basicamente para defender o ego daquilo que ele não está preparado para enfrentar. Talvez tais mecanismos possam ser descritos em comportamentos de fuga e esquiva que um indivíduo apresenta quando está sob controle aversivo. Visto isso, esta pesquisa contemplou a análise dos seguintes mecanismos: repressão, negação, projeção, sublimação, formação reativa e identificação. Sob a visão psicanalítica, a repressão seria considerada um mecanismo que mantém fora da consciência impulsos, ideias e sentimentos que são inaceitáveis por provocarem ansiedade. A negação seria o bloqueio de algumas percepções do mundo externo ou a negação da própria existência para se proteger. O mecanismo de projeção poderia ser descrito como um processo da mente pelo qual características do próprio indivíduo não são aceitas conscientemente, e assim, atribuídas ao meio. Já a formação reativa seria a adoção de um comportamento oposto à tendência reativa que o sujeito tenta esconder. A sublimação seria explicada como desejos inaceitáveis que são expressos de forma socialmente aceita; e na identificação, a pessoa assumiria características de outra e as adequariam à sua própria personalidade. As explicações behavioristas apresentadas para se entender os mecanismos de defesa mostra que esses fenômenos estão potencialmente relacionados com o reforçamento negativo, que, por conseguinte, associam-se a comportamentos de fuga e esquiva que o indivíduo pode apresentar, num primeiro momento. Assim, a repressão pode ser explicada como um comportamento de esquiva em relação às contingências aversivas semelhantes às que causaram um dado trauma ou a falta de sensibilidade a essas contingências. A negação seria basicamente a fuga de situações potencialmente aversivas, que causariam demasiado sofrimento. A projeção teria uma relação com a supressão do comportamento punido ou com o comportamento que fosse ao menos passível de punição. A formação reativa poderia ser explicada por meio da emissão de um comportamento incompatível com o punido. A sublimação, por sua vez, poderia ser explicada como um comportamento que é emitido de modo a receber reforçamento positivo. E, por fim, a identificação poderia ser explanada recorrendo-se ao princípio do comportamento imitativo.

Discussão: Concluiu-se que os mecanismos de defesa estão relacionados com fuga e esquiva, podendo ser mantidos pelo reforçamento negativo além de poderem estar relacionados com a busca pelo reforçamento positivo e com comportamento imitativo. Freud contribuiu para o conhecimento humano, mas as variáveis ambientais tiveram papel secundário em sua teoria. Por fim, concluiu-se que as explicações mentalistas não ficam num domínio comportamental para explicar atos humanos, mas partem deles para inferir causas internas ao comportamento.

Referências
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2 comentários:

  1. Obg por compartilhar isso conosco de forma gratuita. Quando será publicado? Você tem ideia? Gostaria de ler..

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  2. Obg por compartilhar isso conosco de forma gratuita. Quando será publicado? Você tem ideia? Gostaria de ler..

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