terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Duas críticas ao Behaviorismo

Que críticas são feitas ao Behaviorismo não é nenhuma novidade. O próprio Skinner lista 20 críticas bastante recorrentes em seu livro de 1974, About Behaviorism (Sobre o Behaviorismo, Ed. Cultrix, no Brasil). Entretanto, há alguns dias li certas críticas no Facebook que me incomodaram. Uma delas é a de que, como nós behavioristas "não aceitamos a mente, mas aceitamos os sentimentos?". 
A resposta: Essa crítica me parece um tanto ignorante (para não dizer burra, desculpem o termo). Alguém que nos joga esse tipo de crítica claramente não compreende o que entendemos por mente e muito menos o que entendemos por sentimentos. Creio que, quando dizemos que não aceitamos a concepção de mente, dizemos que não aceitamos os conceitos que vem da luz de abordagens como a psicanálise, por exemplo. Isto é, não admitimos que comportamentos são causados por instâncias mentais como àquelas que Freud chamou de 1ª e 2ª Tópicas. 
Skinner diz que todo comportamento começa inconsciente, mas no sentido de não sabermos quais são as variáveis das quais nosso comportamento é uma função. É algo muito diferente de dizer que agimos inconscientemente porque uma entidade que habita nosso organismo não nos deixa ter acesso concreto às causas do nosso comportamento.
Essa concepção é dualista, ou seja, admite o paradigma mente-corpo para explicar o comportamento humano. E, como sabemos, o Behaviorismo é monista. Consideramos "mente" nada mais que um tato para designar uma série de comportamentos encobertos (percepção, cognição, etc), ou seja, comportamentos que ocorrem dentro de nossa pele, que difere de comportamentos abertos tão-somente pela acessibilidade.
Já sobre sentimentos: o que são sentimentos e emoções além de respostas fisiológicas ante estímulos proveninentes do ambiente ou de alterações do ambiente? Óbvio que quando falamos de sentimentos, a discussão torna-se um pouco mais complicada do que se falássemos somente de emoções. No entanto, o princípio é o mesmo: uma alteração no meio gera uma alteração no organismo e o que sentimos nada mais é do que um comportamento encoberto, assim como aqueles que o termo "mente" designa.
O sentimento, assim como a "mente", não é causa do comportamento, pois é um subproduto das contingências de reforçamento que o sujeito vive. Como disse: os comportamentos encobertos diferem dos comportamentos abertos tão-somente pela acessibilidade. O que causa ambos são as variáveis ambientais das quais o sujeito está passível de sofrer influência.

A outra crítica que me deixou incomodado foi a de que o que nós fazemos nada mais é que reduzir "o ser humano a um conjunto de comportamentos" e que isso é insatisfatório e, por isso, somos pretensiosos.
A resposta: Acusar-nos de sermos reducionistas é uma das críticas mais manjadas que existem. Só faltou o "são mecanicistas" para estar formada a duplinha dinâmica das críticas ao Behaviorismo. Nem vou me estender tanto para responder a essa crítica aqui no blog. 
Dizer que meramente reduzimos o ser humano a comportamentos é simplesmente não saber o que significa comportar-se. A impressão que eu tive é a de que o Behaviorismo RADICAL é ainda muito confundido com o Behaviorismo METODOLÓGICO. Comportar-se não é ser um robô "bate e volta" de estímulos do meio. Vai muito além disso. Comportar-se é interagir com o meio, modificá-lo, ser modificado por ele, é perceber, sentir e abstrair coisas, é entender o outro e se entender. É se autoconhecer e saber responder ao meio no qual se está inserido. Como disse, não acho que essa crítica mereça atenção. É uma crítica que simplesmente evanescer-se-ia se aqueles que a usam estudassem mais.
E, por isso, aconselho as seguintes leituras: o Sobre o Behaviorismo (Ed. Cultrix), que é um livro pequeno e gostoso de ler, os dois últimos capítulos, 8 e 9, do livro Contingencies Of Reinforcement: A theoretical analysis (Ed. Appleton-Century-Crofts), e o capítulo 1 do livro Questões Recentes na Análise Comportamental (Ed. Papirus). Todos três livros são do Skinner. Nada melhor que beber da fonte para entender fidedignamente o que o Behaviorismo Radical entende por "mente", sentimentos e comportamento.

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