domingo, 27 de janeiro de 2013

Comportamental e Cognitivo-Comportamental

Muitas pessoas acham que a abordagem cognitivo-comportamental seria uma vertente da abordagem comportamental. Essas pessoas estão enganadas, ao meu ver. Se ela for uma vertente, seria da própria abordagem cognitiva, que pegou "emprestado" nossas técnicas, digamos assim. No entanto, não creio que quando Watson publicou seu manifesto "A Psicologia como o Behaviorista a Vê", ele teria noção das proporções que essa nova escola de pensamento tomaria. Skinner estudou Watson, Pavlov, Thorndike e muitos outros até formar o que ele próprio chamou de Behaviorismo Radical. Por outro lado, Aaron Beck chegou à sua teoria cognitiva através do estudo de outros teóricos, obviamente, mas principalmente estudando pessoas depressivas.
Há também pessoas que dizem (inclusive profissionais da área) que a abordagem comportamental e a abordagem cognitivo-comportamental são a mesma coisa. Isso é simplesmente um absurdo para mim. Elas são filosofica e epistemologicamente diferentes. Enquanto nós behavioristas entendemos que a causa do comportamento humano são as variáveis ambientais das quais ele é função, os cognitivistas (que a partir de agora englobará, no texto, tanto os cognitivistas "puros" como os cognitivos-comportamentais) entendem que pensamentos e sentimentos o são. Por exemplo: "aquele cara bateu no irmão porque estava com raiva". Nós diríamos, talvez, que ele agrediu o outro em decorrência do próprio comportamento deste outro, que é aversivo pra ele; e a agressão seria uma forma de contracontrole, retirando do meio a estimulação aversiva que o está controlando. Já a raiva sentida vem justamente como efeito colateral deste controle aversivo sob o qual ele está.
Os cognitivistas assumem a existência de uma mente humana e atribuem comportamentos a ela, enquanto que nós entendemos mente como um termo que engloba uma série de comportamentos encobertos, como o pensar, o perceber, etc. (embora eu mesmo não admita a existência de uma mente e nem gosto de usar esse termo. Sim, sou chato!).
Na verdade, mais do que a mente, os cognitivistas "se escondem" atrás das chamadas "teorias do cérebro", atribuindo causas comportamentais aos funcionamentos neurofisiológicos do homem. Obviamente que eles estão envolvidos no comportamento humano, mas, por exemplo, a liberação de neurotransmissores (NTs) depende também de um evento no meio em que o sujeito está inserido.
Devemos entender o funcionamento respondente de um organismo como uma alteração decorrente de uma alteração no próprio meio, ou seja, até mesmo o biológico do homem responde em função das contingências que o controlam. Um exemplo: uma pessoa está andando tranquilamente pela rua e, de repente, aparece um cão bravo latindo e rosnando para ela. Há a liberação de NTs, como a adrenalina, e suas mãos ficam frias, o coração dispara, há sudorese fria, os pêlos eriçam, etc. Todas essas respostas estão em função da alteração no meio (que antes era tranquilo e, agora, tem um estímulo aversivo presente: o cão bravo.) em que a pessoa está inserida.
Através dessas últimas colocações também conseguimos dizer que, ao contrário do que os cognitivistas acreditam, as emoções também não são causas do comportamento, mas simplesmente, comportamentos que encontram-se em função das contingências, afinal, emoções também são respostas fisiológicas do sujeito, decorrentes de uma alteração no meio e também têm valor de sobrevivência. Embora emoções podem surgir através de lembranças, do ouvir uma música, etc., que, de certa maneira, são alterações no meio.
Com relação à psicoterapia, o trabalho dos cognitivistas é de, resumidamente, mudar o modo como o cliente vê o mundo através da mudança dos chamados processos cognitivos, isto é, através do modo como ele pensa e como ele percebe as coisas ao seu redor. Já a terapia comportamental muda a visão de mundo do cliente, através de mudanças comportamentais e contingenciais. É o movimento contrário. Cognitivistas tentam mudar de dentro pra fora e nós de fora pra dentro.

Diziam-me que a abordagem comportamental só está viva atualmente por causa dos cognitivos-comportamentais. Eu digo exatamente o contrário: a abordagem cognitiva só está viva hoje porque sem as nossas técnicas, ela não se estabeleceria nem se manteria.

O texto de hoje foi feito sem referências formais. Só com o que eu aprendi com meus estudos, porém, tive a ajuda do nosso querido Alessandro Vieira dos Reis, com este texto, onde ele aponta 7 diferenças entre o cognitivismo e o comportamentalismo (o blog dele é ótimo, sigam!).

Dica de leitura: Capítulo 6 do livro Questões Recentes na Análise Comportamental do Skinner.




Nenhum comentário:

Postar um comentário