Parece que alguns
professores de Educação Física têm optado por abordar seus alunos usando aquilo
que chamamos de controle aversivo do comportamento (Skinner, 1953; 1957; 1971;
1974; Catania, 1999; Baum, 2006; Moreira & Medeiros, 2007; etc),
aconselhando que não se motive alunos com frases de impacto que realmente o
motivem, como no cerne do conceito de motivação. Ao contrário, propõem: “Você é
fraco!”, “você está gordo” e “sua genética é um lixo” são algumas das
verbalizações que seriam emitidas para um desempenho melhor e um “bom treino”
realizado.
Agora vamos lá: O que
Skinner diria sobre isso? “Eu não sei, mas ele não era um bodybuilder.” É claro que não, Skinner era um BRAINbuilder, se ele era alguma coisa além do que o melhor Analista
do Comportamento que já existiu. Vou tentar apontar algumas razões pelas quais
esse tipo de abordagem NÃO DARIA CERTO com alguns tipos de pessoas.
1) Como
dito: é controle aversivo. Além do nome dispensar explicações, ele tem alguns
efeitos colaterais. Entre eles o de gerar respostas emocionais muito pouco
agradáveis para quem vive sob contingências aversivas.
2) Segundo,
sendo controle aversivo, o indivíduo que está sob essas contingências vive à
mercê das consequências de seu comportamento. Essas consequências podem
instalar e manter determinados tipos de comportamento que podem ser o contrário
do esperado. Um exemplo? Em vez de esse aluno tentar provar ao seu “personal trainer” que ele é diferente do
que essas verbalizações exprimem, pode simplesmente parar de treinar, na melhor
das hipóteses. Numa das piores (são tantas! Acreditem!), o treinador instalaria,
no aluno, regras como “eu sou um bosta, jamais vou conseguir qualquer tipo de
realização que almejo” (torcemos para que isso não se generalize para outros
aspectos da vida e fique só no ambiente da academia!), “eu sou fraco”, “eu sou
gordo e jamais deixarei de ser”, “do que adianta tentar se nem meu treinador
acredita no meu potencial?”, etc. Vamos torcer também para que aluno não entre
no que chamamos de desamparo aprendido (Skinner, 1990; Catania, 1999).
3) Abordando
agora uma hipótese não tão agradável para o próprio treinador: o aluno pode ser
bem diferente do que ele imagina, se sentir ofendido e, ao invés de recuar e se
fechar no seu “mundinho” ou treinar mais pesado para provar ao treinador que ele
é “diferente”, pode dar uma investida e tomar medidas legais contra o profissional
que o abordou desse modo (não conheço o suficiente, mas poderia ter denúncia no
Conselho Regional?)
Enfim, como eu disse: esse tipo de abordagem pode dar
certo para ALGUNS alunos, lembremos sempre: cada ser humano é um e único.
Defender uma abordagem aversiva dessas para TODOS é simplesmente
contraproducente. Eu mesmo, enquanto um aluno que frequenta academia e que é
obeso e que sim, acredita que pode emagrecer e atingir objetivos, me sentiria
extremamente coagido e “motivado” ao extremo, mas para PARAR de treinar.
Levando em consideração essa unicidade inerente a cada
ser humano: será que não seria melhor entender qual a demanda e necessidade do
aluno para que, com ele, a melhor forma de treino fosse optada? É claro que não
estou querendo me meter numa área que não é a minha, mas deixo a pergunta: será
que vale a pena construir um corpo perfeito e destruir um psicológico de modo
que possa chegar ao irreversível? É para se refletir, no mínimo.
REFERÊNCIAS
Baum, W. M. (2006) Compreender o Behaviorismo. 2 ed. Porto Alegre: Artmed.
Catania, A. C. (1999) Aprendizagem: Comportamento, Linguagem e Cognição. 4 ed. Porto Alegre: Artmed.
Moreira, M. B.; Medeiros, C. A. (2007) Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed.
Skinner, B. F. (1953) Science and Human Behavior. New York: Free Press.
Skinner, B. F. (1957) Verbal Behavior. Cambridge: Copley Publishing Group.
Skinner, B. F. (1971) Beyond Freedom and Dignity. New York: Hackett Publishing Company.
Skinner, B. F. (1974) About Behaviorism. New York: Vintage Books.
Skinner, B. F. (1990) Questões Recentes na Análise Comportamental. São Paulo: Papirus Editora.
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